O interesse das grandes pelo agronegócio: uma ameaça aos ISPs?
Enviado em 25.10.2022

O Interesse das Grandes Pelo Agronegócio: Uma Ameaça aos ISPs?

Ainda engatinhando, o 5G começa a ser implantado num ritmo mais do que lento, que não garante cobertura adequada sequer em metrópoles. Em […]

Ainda engatinhando, o 5G começa a ser implantado num ritmo mais do que lento, que não garante cobertura adequada sequer em metrópoles. Em São Paulo, por exemplo, está disponível apenas em poucos bairros. Não haverá grandes mudanças enquanto o cenário econômico, avesso a investimentos e aumento de gastos, persistir. A combinação de baixo crescimento, alto endividamento das famílias, juros elevados – que, mesmo com a deflação registrada em julho, devem manter-se nos atuais patamares por conta do aumento dos gastos públicos e temores quanto a uma recessão global –, reprime a demanda e restringe a tecnologia a poucos em poucos lugares. Ainda assim, o 5G é citado por grandes operadoras como parte das ofertas que elas prometem levar ao campo, onde o foco principal seriam players do agronegócio.

Segunda a TIM, isso já acontece. A operadora afirma realizar testes com o novo padrão de conexão sem fio em alguns dos 4,8 mil municípios de áreas rurais em que oferta conexão 4G, onde também fornece soluções em IoT para produtores. Já a Claro diz realizar projetos pilotos em que se vale da tecnologia para interligar canaviais e usinas no interior paulista. A Vivo, por sua vez, consciente da baixa escala em áreas rurais, defende o uso de recursos do Fust para levar o 5G ao campo.

Para os ISPs, que puderam crescer num ritmo superior a 20% ao ano com a oferta de banda larga em regiões ignoradas pelas grandes teles, esse tipo de anúncio causa temor. Porém, pode configurar oportunidades para quem estiver preparado para aproveitá-las. O interesse das grandes operadoras pelos clientes em áreas rurais não poderá limitar-se a produtores rurais, público muito reduzido que inviabilizaria qualquer ação comercial. Em algum nível, portanto, a oferta teria de ser estendida a outros, sem o qual não se alcançaria algum nível de escala. Mesmo que isso seja feito, o número de clientes potenciais em regiões fora dos grandes centros não justifica investimentos relevantes de grandes grupos de telecomunicações. Desta forma, é mais do que improvável que essas empresas invistam, por exemplo, na construção de infraestrutura própria em cidades médias ou pequenas.

Portanto, para os ISPs, a proximidade desses concorrentes significa a possibilidade de obter receitas por meio do aluguel de suas redes de fibra óptica, essenciais para que o 4G e o 5G satisfaçam as expectativas criadas quanto a baixa latência e capacidade de transmissão de dados. Demanda pelo 5G no campo há. Quarto maior exportador de commodities agrícolas do mundo, o agronegócio brasileiro sofre constantes pressões internacionais por conta do desmatamento promovido para o aumento de áreas de cultivo e pasto. Fazer com que a produção cresça sem que florestas sejam transformadas em plantações e afins demanda automação, como a que marca a chamada Agricultura 4.0, com a qual a Europa tem obtido excelentes resultados, que, além de aumentar sua oferta de alimentos, torna mais viável a realização de embargos comerciais a países que desprezam sua responsabilidade quanto à contenção do aquecimento global.

Para grandes teles, a oferta de 4G e 5G para grandes produtores disporem de padrões adequados de conectividade às suas atividades representa receita certa, porém, insuficiente. ISPs devem, desta forma, permanecer como os principais fornecedores de SCM fora das grandes cidades ou mesmo onde o agronegócio é a principal atividade econômica. Porém, seja para lucrarem com a locação de suas redes, seja para competir com ofertas – mesmo que pontuais – das teles, terão de, mais do que nunca, estar devidamente regularizados e bem geridos.

Isso porque a chegada de grandes operadoras atrairá a atenção de órgãos reguladores, desde Anatel e Fisco a conselhos técnicos, como CREA e CFT. Estar em dívida com um ou mais desses, expõe PPPs tanto a autuações e multas de uma fiscalização crescente e mais atenta quanto à impossibilidade de se firmar acordos comerciais com grandes grupos que, com capital aberto no Brasil e no exterior, adotam políticas rigorosas quanto à contratação e fechamento de contratos com empresas que têm pendências regulatórias, fiscais ou de outras naturezas.

Autor: Fábio Vianna Coelho. Sócio da VianaTel e da RadiusNet, especializadas, respectivamente, em regularização de provedores de Internet e softwares de gestão para ISPs. contato@vianatel.com.br

Acesse também: Onde Estão os Clientes?

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