Crescimento Inorgânico Através da Aquisição de Provedores de Internet
Enviado em 06.10.2023

Crescimento Inorgânico Através da Aquisição de Provedores de Internet

No acelerado universo das telecomunicações, os provedores estão sempre em busca de estratégias que possam proporcionar crescimento e vantagem competitiva. Uma dessas estratégias, […]

No acelerado universo das telecomunicações, os provedores estão sempre em busca de estratégias que possam proporcionar crescimento e vantagem competitiva. Uma dessas estratégias, que está cada vez mais popular, é o crescimento inorgânico por meio da aquisição de outras operações de telecomunicações. Como profissional em M&A (Fusões e Aquisições), tenho trabalhado há anos nestes processos e testemunhei o impacto positivo que ela pode trazer, o objetivo é poder compartilhar com vocês os pontos positivos e negativos destes movimentos.

O crescimento inorgânico por aquisições, permite que as empresas de telecomunicações ampliem rapidamente sua base de clientes e reforcem sua presença no mercado. É uma alternativa mais rápida e menos custosa do que o crescimento orgânico, que envolve a expansão lenta e constante das operações existentes. Ao adquirir outras operações, uma empresa pode instantaneamente ganhar acesso a uma base de clientes estabelecida, além de obter uma presença imediata em novos mercados ou segmentos.

Um exemplo ilustrativo disso pode ser visto pelos movimentos que as empresas Desktop (DESK3) e Unifique (FIQE3) vem fazendo ao longo dos anos. Estas empresas a poucos anos atrás eram operações de telecomunicações de médio porte com uma base de clientes leais e uma forte presença em uma região geográfica específica, ao longo do tempo foram crescendo de maneira orgânica como todos já fazem, mas incorporaram uma estratégia de crescer também adquirindo outras operações, isso fez com que se tornassem duas das maiores operações do Brasil chegando a abrir capital na bolsa de valores (IPO). Mas elas não pararam no IPO, mesmo após abrir capital ambas seguiram sua estratégia de aquisição adquirindo empresas regionais muito bem estruturadas como a Sygo (adquirida pela Unifique por R$226,1 milhões) e LPnet (adquirida pela Desktop por R$340 milhões). Ao adquirir essas empresas, a Desktop (DESK3) e Unifique (FIQE3) não só conseguiram entrar nessas novas cidades instantaneamente, mas também adicionaram milhares de novos clientes à sua base possibilitando a venda de novos serviços, quanto também teve acesso a diversas novas redes FTTH para crescer mais dentro dessas cidades.

A aquisição também permite que as empresas de telecomunicações acessem tecnologias e conhecimentos especializados que não possuíam antes. Em muitos casos, as operações adquiridas podem ter desenvolvido soluções inovadoras ou acumulado experiência em áreas específicas. Ao adquirir essas operações, uma empresa pode efetivamente “importar” essa inovação e experiência, permitindo que acelere seu próprio desenvolvimento tecnológico da “empresa mãe” e melhore sua oferta de serviços para sua base total de clientes.

Para exemplificar de maneira clara essa situação, suponhamos que um Provedor de Internet “X”, que tem uma cobertura gigantesca de rede e atuação fortíssima no mercado B2C (cliente final), adquiriu um provedor “Y”, um provedor regional, de médio porte, mas que desenvolveu uma tecnologia e uma metodologia para atendimento em condomínios inteligentes. Ao adquirir este provedor, a empresa X conseguiu acessar essa nova tecnologia e integrá-la em seus próprios serviços em sua malha de cobertura atual, aumentando seu portifólio, barreira de entrada a novos concorrentes, rentabilidade da rede atual, etc.

Outro benefício da aquisição é a oportunidade de obter economias de escala. As empresas de telecomunicações, em particular, têm altos custos fixos, como a manutenção de redes e infraestrutura. Ao expandir a base de clientes através da aquisição, esses custos podem ser distribuídos por mais usuários, resultando em menores custos unitários.

No entanto, embora as vantagens sejam claras, o processo de aquisição não está isento de desafios. As empresas precisam realizar diversas etapas para garantir que o processo não seja traumático! Dentre essas etapas gostaria de ressaltar a etapa de Due Diligence. A etapa de due diligence é uma fase crítica do processo de aquisição que envolve uma investigação minuciosa e detalhada da empresa que está sendo considerada para aquisição. Essa análise cuidadosa abrange várias áreas essenciais, incluindo as finanças do provedor, contabilidade, jurídico, sua posição no mercado, potencial de crescimento, estrutura técnica operacional, questões regulatórias e até mesmo a cultura corporativa. Além disso, o processo de due diligence também inclui a análise da infraestrutura de rede, tanto física quanto lógica, as operações comerciais, os contratos com clientes e fornecedores, processos trabalhistas dentre outros inúmeros tópicos. Este processo não só ajuda a identificar os possíveis riscos e responsabilidades da aquisição, mas também fornece uma compreensão profunda do valor e do potencial da empresa alvo. Por isso, a due diligence é fundamental para garantir uma transição bem-sucedida e evitar surpresas desagradáveis após à conclusão da aquisição.

Não tenho a intenção de abordar absolutamente todas as etapas de um processo de aquisição até porque o artigo ficaria extremamente maçante, porém uma etapa que não posso deixar de mencionar é sobre a importância e o cuidado no processo de integração pós-aquisição. Caso não seja bem realizado por um plano específico poderá colocar toda a estratégia de aquisição em risco. Isso envolve a integração de tecnologias, redes (tanto físicas quanto lógicas), comunicação e marketing, processos, contratos, sistemas e, talvez o mais importante: pessoas. É fundamental gerir a mudança de forma eficaz, para minimizar a interrupção das operações e manter o moral e a produtividade dos funcionários. É muito importante que seja criado um plano de ação com o assunto, metas, prazos, responsáveis e monitorar constantemente a evolução desta integração.

Além da aquisição de outros provedores, outras estratégias de crescimento inorgânico, como fusões e joint ventures, também devem ser avaliadas. Por exemplo, uma fusão entre duas empresas de telecomunicações pode criar uma nova entidade com maior participação de mercado, competências mais amplas e melhores economias de escala. Da mesma forma, uma joint venture pode permitir que duas empresas compartilhem recursos e conhecimentos, ao mesmo tempo que compartilham os riscos e custos associados, principalmente com o surgimento de novas tendências associadas a Redes 5G e Redes Neutras.

Como qualquer estratégia de crescimento, a aquisição deve ser abordada de forma estratégica e considerada dentro do contexto mais amplo da estratégia de negócios da empresa. Os provedores devem considerar cuidadosamente como uma aquisição se alinha com suas metas e objetivos de longo prazo, e como ela irá integrar e fortalecer suas operações existentes. Geralmente este direcionamento é dado pela diretoria estratégica financeira, controller ou pelo advidor e empresa de assessoria financeira terceirizada do provedor.

Em conclusão, a aquisição de outras operações de telecomunicações é uma estratégia de crescimento inorgânico potente que pode oferecer várias vantagens. No entanto, é uma estratégia que requer cuidado, planejamento e execução eficaz para ter sucesso. Com a abordagem certa, os provedores de internet poderão usar a aquisição para acelerar seu crescimento, aumentar sua competitividade e posicionar-se para o sucesso a longo prazo.

Pablo Constantino,
Sócio fundador da Vispe Capital. Sócio Diretor da IPV7.

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