O que esperar do 5G?
Enviado em 29.11.2022

O que esperar do 5G?

O leilão aconteceu e a Anatel consagrou a possibilidade de participação das prestadoras de pequeno porte. Quem participou, ganhou e depois desistiu, será […]

O leilão aconteceu e a Anatel consagrou a possibilidade de participação das prestadoras de pequeno porte. Quem participou, ganhou e depois desistiu, será duramente penalizado. A conduta da Agência foi, ao longo de todo o processo de consulta pública, desenho das faixas e dos seus compromissos de abrangência, impecável.

O que é certo: o advento do 5G inaugura uma nova fase na conectividade das pessoas e das coisas e seu foco não está somente no incremento de taxas de transmissão dos serviços móveis, mas principalmente na especificação de serviços que permitam o atendimento a diferentes aplicações.

Não ache isso distante ou irrelevante para o seu provedor. Tenha clareza e conheça as particularidades dessa tecnologia. Temos esse dever para com nossos clientes e nossas empresas.

Começando com um exemplo: o maior impacto dos compromissos de abrangência será a ampliação da rede 4G. Sabemos que, para algumas localidades do país, com poder aquisitivo mais baixo, a oferta da banda larga móvel ainda impacta a oferta da banda larga fixa. Esteja atento a isso.

Outro compromisso de abrangência diretamente relacionado às nossas redes de acesso envolve a possibilidade de atendimento das escolas públicas da educação básica. Caberá ao Grupo de Acompanhamento do Custeio à Projetos de Conectividade de Escolas (Gape) definir os critérios, metas e os prazos para esse atendimento. Atente-se aos chamamentos públicos que estão por vir.

No Brasil, foram leiloadas as faixas de 700 MHz, 2,3 GHz, 3,5GHz e 26 GHz. Temos aqui uma mistura de bandas baixas (as chamadas sobras dos 700 MHz), bandas médias (2,3 GHz e 3,5 GHz) e bandas altas acima de 6 GHz (incluindo as ondas milimétricas de 26 GHz, conhecida como mmWave).

Dito isso, alguns destaques: a faixa de 2,3 GHz, mais utilizada no mundo para a tecnologia LTE TDD, pode e deve ser associada ao atual leque de frequências LTE FDD em uso. Essa faixa foi padronizada no 3GPP para a tecnologia 5G NR como Banda n40. Também, os compromissos de abrangência associados às autorizações em 2,3 GHz, ou seja, o atendimento a municípios abaixo de 30 (trinta) mil habitantes, confere mais fôlego ao 4G ao complementar a gama de espectro atual das grandes operadoras.

Já a faixa de 26 GHz será habilitadora de novos negócios em que se precisa de baixíssima latência e cobertura limitada, como o Fixed Wireless Service de ultra velocidade, a automação industrial e a manipulação de objetos. Também, há a expectativa de que o 5G possibilite cobertura da rede de dados em grandes distâncias, com foco em áreas rurais ou regiões com baixa densidade populacional, especialmente através dessa faixa.

O movimento do 5G certamente vai acelerar a procura por novas arquiteturas virtualizadas com interfaces de rede abertas, capazes de aumentar a eficiência de custos e realocar o papel (e a colaboração) da indústria que atende a todos nós. Enquanto provedores, devemos conhecer esses movimentos de (re)padronização tecnológica.

Já estamos vendo, nas capitais, o aumento do tráfego das grandes operadoras vencedoras das faixas. Isso já era esperado desde antes do edital. Ainda não temos plena clareza sobre a desocupação da faixa de 3.625 MHz a 3.700 MHz (banda C estendida) pelas redes profissionais satelitais e a adoção da estratégia de migração para a banda Ku, não sendo plenamente possível a compreensão do interesse na recepção do sinal de televisão aberta e gratuita pela população.

Para o mercado corporativo, as aplicações das ondas milimétricas do 5G revolucionarão a experiência em nuvem de inúmeras tarefas e demandas de TI, que deixam de estar “restritas” ao processamento do laptop do usuário, por exemplo.

Já na indústria, as possibilidades de ganho de escala e competitividade com o 5G são ilimitadas, especialmente em relação ao cenário de uso do 5G para URLLC e automações fabris e a conectividade de dispositivos em áreas extensas.

A obrigação das operadoras de “investir do zero”, através do estabelecimento pela Anatel, via edital, do padrão de redes igual ao superior ao 5G NR Release 16 do 3GPP (conhecidas como rede stand-alone) coloca o Brasil à frente de outros países, inclusive daqueles que já despontam com soluções 5G, liderados pelo EUA e pela Coréia do Sul, seguido pelo Reino Unido, Espanha, Alemanha e China, nessa ordem.

Não se espera que o 5G substitua as tecnologias anteriores, mas sim que trabalhem em conjunto, de forma a contribuir para que os serviços operem da maneira mais eficiente possível. Nossas redes podem e devem dar vazão a esse incremento de tráfego. O recado da ABRINT é claro: conhecer e se preparar é se permitir exercer poder de mercado.

Autora: Cristiane Sanches – Conselheira da ABRINT – tem vasta experiência profissional em política regulatória de telecomunicações e tributação. Também é membro do Conselho do LAC-ISP.

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