O Reequilíbrio da Internet Global
Enviado em 01.10.2021

O Reequilíbrio da Internet Global

Estima-se que os cabos de comunicação submarinos facilitam mais de US$ 10 trilhões no comércio global por dia. Para que regiões do mundo, […]

Estima-se que os cabos de comunicação submarinos facilitam mais de US$ 10 trilhões no comércio global por dia. Para que regiões do mundo, que se encontram em rápido crescimento, como a Ásia e a África, tenham pleno acesso a esse fluxo de comércio digital, elas precisam ter conexões de cabos submarinos confiáveis e de alta capacidade. Isso é ainda mais importante à medida que o epicentro do tráfego da internet se afasta dos EUA em direção a um equilíbrio de tráfego muito mais justo e equitativo em todo o mundo.

Em resposta a essa necessidade, nos últimos anos temos visto novos cabos de alto desempenho fornecendo maior capacidade e menor latência para conexões entre a Europa, Oriente Médio e Ásia, bem como novos cabos diretos entre a Europa e a América do Sul.

O maior cabo submarino do mundo na atualidade

O cabo Ásia-África-Europa-1 (AAE-1) é um excelente exemplo. Um sistema de cabos de 25.000 km que conecta o Sudeste Ásiático à Europa via Egito, é o maior cabo submarino a ser construído em quase 15 anos. O AAE-1 é um projeto de cabo moderno, otimizado para a última geração de transponders submarinos coerentes de alto desempenho. Estes são os dispositivos transmissores/receptores ativos que estão conectados em ambas extremidades do cabo, e que injetam sinais ópticos de alta taxa de dados a mais de 100 Gb/s por comprimento de onda, com uma capacidade inicial de projeto de 40 Tb/s para o cabo.

Observe que, embora um cabo submarino tenha uma vida útil de projeto de cerca de 25 anos, a evolução do transponder ocorre em ciclos de aproximadamente quatro anos, assim novos transponders podem ser implantados em cabos existentes para dar-lhes um impulso na capacidade de meia-idade. Por exemplo, ao longo dos últimos 20 anos, a capacidade dos cabos submarinos transpacíficos aumentou em um fator de 357 vezes. Mas durante esse período, apenas 12 cabos foram colocados. A maior parte desse crescimento de capacidade foi alcançado pela evolução dos transponders submarinos.

Iluminando a África

Outro exemplo é a ascensão da África em termos de presença e capacidade de Internet. Atualmente, o padrão de investimento em todo o continente é altamente desequilibrado, com a maior parte dos investimentos sendo focados na África do Sul. Um relatório da Associação Africana de Centro de Dados prevê que a África precisa construir instalações de centro de dados em escala de 700 gigawatts em todo o resto do continente para atender às crescentes demandas e para adequar o resto do continente à capacidade e à densidade da África do Sul.

Onde os centro de dados aparecem, a conectividade de longa distância e a alta capacidade também devem existir. Este é o objetivo do sistema de cabos 2Africa – o sistema de cabos submarinos mais ambicioso e de maior escala em desenvolvimento atualmente. Com 37.000 km de extensão, o sistema 2Africa será um dos maiores projetos de cabo submarino do mundo e irá interconectar a Europa (via cabos mediterrâneos do Egito para Itália e Marselha), o Oriente Médio (via Arábia Saudita) e 21 pontos de desembarques em 16 países da África. Espera-se que o sistema entre em operação em 2023/2024, fornecendo mais do que a capacidade total combinada de todos os cabos submarinos que atendem a África nos dias de hoje, com uma capacidade de projeto de até 180 Tb/s em partes-chave do sistema.

Na África, vemos o uso extensivo da infraestrutura móvel, que foi originalmente posicionada como uma forma de superar as linhas telefônicas de cobre legadas e fornecer conectividade móvel de baixo custo com rapidez e facilidade. A GSM Association estima que a indústria de redes móveis na África contribui com US$ 184 bilhões para o PIB das nações sub-Saharan. Mas essa conectividade móvel deve ser alimentada por conexões em centros de dados locais e redes de longa distância e submarinas, e essa conectividade aprimorada desempenhará o seu papel em ajudar a conectar os 800 milhões de pessoas da região que estão do lado desfavorecido da divisão digital e ainda não têm acesso às vantagens econômicas, sanitárias e educacionais da conectividade da Internet.

Da Europa à América do Sul

Outras rotas de conectividade global estão tomando forma para lidar com padrões em mudança, incluindo o tráfego que precisa percorrer do sul da Europa para a América do Sul. Hoje em dia, esse tráfego normalmente passaria da Espanha ou de Portugal até o Reino Unido, através do Atlântico até a Costa Leste dos EUA, de lá para Fortaleza no Brasil, e em seguida para o Rio de Janeiro.

No momento em que você estiver lendo isto, uma nova rota direta entre Portugal e o Brasil provavelmente terá sido aberta no sistema de cabos EllaLink. Isso irá reduzir a distância da rota entre Lisboa e Rio de cerca de 15.000 km nos dias de hoje para cerca de 9.000 km – com uma redução dramática resultante na latência e um aumento dramático na capacidade disponível.

Arquitetando redes submarinas para segurança de dados

Considerando que a segurança de dados representa um dos ativos estratégicos mais importantes do século XXI, não deve ser uma surpresa que os governos estejam levando a sério os riscos inerentes associados às redes submarinas e pressionando por medidas de segurança mais fortes. Por exemplo, os Estados Unidos lançaram recentemente a iniciativa The Clean Network, que inclui um grupo de trabalho da Clean Cable com a tarefa de avaliar o aspecto de um cabo submarino “seguro” e garantir que cabos submarinos em todo o mundo não sejam comprometidos, inclusive por governos estrangeiros que procuram explorar fraquezas para fins de coleta de informações. No início deste ano, mais de 20 Estados-Membros da União Europeia (UE) se comprometeram em fortalecer a conectividade da Internet entre a Europa e seus parceiros em outras regiões globais, assinando a Declaração sobre “Portas de Dados Europeias” (Data Gateways) como um elemento-chave da Década Digital da UE, uma iniciativa que inclui cada vez mais foco na segurança de cabos submarinos e riscos de dependência. Além da arquitetura para maior capacidade e maior desempenho, a segurança de dados está desempenhando um papel cada vez mais crítico na forma como as redes submarinas serão projetadas e construídas daqui para frente.

Em conclusão

Os sistemas de cabos submarinos são vitais para a economia digital em todo o mundo. No passado, grande parte dessa atividade estava centrada nos Estados Unidos, mas agora as rotas asiáticas, africanas e sul-americanas estão aumentando em capacidade, com uma explosão de centro de dados locais e uma crescente diversidade de pontos de desembarque. O futuro é brilhante para que essas economias em crescimento aproveitem a oportunidade de se recuperar no mundo pós-COVID.

Andrés Madero, CTO de América Latina e Caribe, da Infinera

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