Guerra nas Estrelas: Internet via Satélite em 2021
Enviado em 27.09.2021

Guerra nas Estrelas: Internet via Satélite em 2021

Entregar serviços e soluções essenciais com banda larga via satélite é possível há algum tempo com as frotas de Satélites de Alto Throughput […]

Entregar serviços e soluções essenciais com banda larga via satélite é possível há algum tempo com as frotas de Satélites de Alto Throughput (HTS). Porém nos últimos tempos, podemos ver aumentos nas velocidades, maior quantidade de tráfego, e funcionalidades mais avançadas para usuários finais varejo e corporativos. Os HTS são desenvolvidos principalmente para fornecer serviços de acesso à internet ponto a ponto em regiões não atendidas, ou atendidas com deficiência mediante serviços terrestres: nesses casos os serviços via HTS podem concorrer em questões de preço e largura de banda.


Na data de criação desse texto, a SpaceX do Elon Musk está lançando 60 novos satélites de internet Starlink que entrarão na órbita em poucas horas. Poderá se converter em uma opção de acesso à internet barata para todos daqui um tempo?


A maioria dos serviços oferecidos com esse tipo de tecnologia, compreendem hoje velocidades médias de 20Mbps, largura de banda dedicada ou compartilhada, capacidade para VoIP e alto SLA (99,5%) entre outros. A latência trabalhando com satélites de baixa órbita, e de no máximo 40ms, o que faz a tecnologia atrativa para todo tipo de atividades habituais.
A pandemia acionou um alarme em determinadas regiões dos EUA onde os habitantes não possuíam acessos confiáveis à internet. Os estudantes não podiam participar das classes facilmente, e os pais lutavam para poder fazer seus trabalhos. A beta “Better than nothing” (melhor do que nada) da Starlink, lançada no norte dos EUA, permitiu que alguns usuários com sorte consigam experimentar e testar o serviço (ainda com alguns limites), por um custo promocional de instalação. A rede de satélites de órbita baixa da empresa promete altas velocidades para habitantes de áreas rurais que não dispõem de muitas opções.


Por enquanto o serviço não tem disponibilidade de “mobilidade” (que nesse caso seria poder pegar a antena e levá-la para qualquer lugar onde estivermos viajando) pois cada cliente fica amarrado a uma única célula de satélite, mas o time da Starlink afirma que isso será possível eventualmente, quando colocarem ainda mais satélites na órbita.


Com a certeza de que a parte técnica da operação será um sucesso, no momento a grande preocupação da empresa é trabalhar parar tirar o “brilho” dos satélites para não interferir com os observatórios na Terra (os quais estão enfrentando problemas pela superpovoação de satélites que começam enganar os alarmes e ruinar imagens capturadas), mais do que o SLA ou a qualidade do serviço a ser entregue: um relatório do SATCON1 (Satellite Constellations workshop) concluiu que “as constelações de satélites na noite, são problemáticas para as observações desde a Terra, incluindo aquelas que utilizam tecnologia infravermelha”.

A Starlink já conta com dois CNPJ registrados no Brasil para vender pacotes de internet de até 150 Mbps (fonte: tecnoblog.net). Segundo informações do próprio sítio oficial da Starlink, o serviço estará disponível até o final de 2021.


No Brasil já existem serviços de banda larga via satélite há alguns anos, oferecidos por diferentes empresas tanto para usuários residenciais como corporativos e com velocidades de descarga de até 25 Mbps, para uso tradicional da internet. O 76% das VSATs (antenas de recepção) segundo ANATEL são instaladas em regiões de baixa ou mínima concorrência de provedores. Quase a metade das antenas instaladas nos últimos anos ficam nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, principalmente nas áreas mais afastadas das grandes cidades. Menos de 5% das antenas foram instaladas em cidades com maiores opções de escolha de provedores. De 2019 para 2020 o número de acessos à internet via satélite cresceu 41,3% e, mesmo sendo uma tecnologia que representa apenas 1% do total de acessos à internet no país, começa representar uma opção para as regiões mencionadas. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 71% das propriedades rurais no Brasil, ainda não têm acesso à internet.


As mesmas empresas que possuem serviço de banda larga via satélite, estão hoje de olho nas possibilidades do 5G já que é possível que exista no futuro próximo uma demanda de backhaul via satélite para aquelas regiões de difícil acesso onde as operadoras de celular não queiram investir em fibra óptica. A corrida já começou e temos várias das empresas tecnológicas mais importantes do mundo investindo para desenvolver a melhor rede de banda larga via satélite.

Fonte: esoa.net

Desafios


Identificam-se no mínimo 4 pontos que deverão ser analisados pelas empresas participantes desses projetos:


a) A batalha das frequências: o espectro é administrado pela ITU (União Internacional de Telecomunicações). Já houve disputas por exemplo, entre a SpaceX de Elon Musk e a Amazon quem tentou participar do leilão sem sucesso por não respeitar os tempos de inscrição. A ITU é também a encarregada de promover a cooperação entre países para melhorar a designação de órbitas para os satélites.


b) O custo dos endpoints: os VSAT continuam sendo equipamentos custosos, devido à tecnologia das mesmas. Embora imaginamos que esse preço vá descer paulatinamente(margem para duas interpretações), ainda continua sendo um fator determinante.


c) A oposição das comunidades científicas: como mencionamos, o brilho dos satélites interfere com os observatórios na Terra entre outras coisas, quanto maior quantidade de satélites isto tenderá a piorar.


d) Lixo espacial: ninguém parece se preocupar muito por isto nesse momento, porém a crescente quantidade de objetos espaciais aumenta o risco de colisões entre satélites, ou entre satélites e outros objetos. A NASA recomenda aos fabricantes fazer com que o satélite desça para órbitas mais baixas uma vez que ficar sem uso para evitar isto. As situações deverão ser analisadas mais em detalhes pois os problemas que isto poderá ocasionar deverão ser resolvidos com soluções sustentáveis e de alto custo.


Os resultados estarão à vista nos próximos anos, entre outras coisas que poderemos experimentar como mobilidade e serviços de trunking dos players do mercado. Porém a possibilidade de poder complementar os serviços terrestres é por si mesma interessante.

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