Uso de L3VPN em ISP de Trânsito
Enviado em 09.12.2020

Uso de L3VPN em ISP de Trânsito

Em um Provedor de Trânsito, temos por principal objetivo entregar para os Provedores de Acesso os conteúdos disponíveis na rede mundial, da forma mais rápida possível

Em um Provedor de Trânsito, temos por principal objetivo entregar para os Provedores de Acesso os conteúdos disponíveis na rede mundial, da forma mais rápida possível. São essas empresas que possibilitam a conexão ente os provedores que atendem aos usuários finais e a Rede Mundial conhecida como Internet. No Brasil, temos um grande volume de Provedores de Trânsito, e eles tem uma importância muito grande em nosso cenário, pois compram links de Operadoras Maiores e levam o serviço para locais onde não há interesse econômico dessas operadoras, fazendo com que tenhamos facilitado o atual cenário brasileiro, onde temos uma infinidade de pequenos Provedores de Acesso alimentados de forma mais econômica por esses Provedores de Trânsito que levam os links até suas portas.

Pensando nesse cenário, onde há uma grande concorrência para entregar links aos Provedores de Acesso, é imperativo que possamos entregar os melhores serviços com menores custos. Uma das ações principais para alcançarmos uma melhor relação custo x benefício é simplificar ao máximo as ações necessárias para o aprovisionamento de um novo cliente, liberando assim tempo aos agentes de NOC para realizar o monitoramento e as ações preventivas de controle da rede.

                Tipicamente, o primeiro serviço ofertado por um ISP aos seus clientes, quando entra no mercado de atacado, é o transporte em L2VPN, onde ele configura um túnel entre o acesso do cliente e seu roteador de borda BGP, para aí sim configurar o trânsito BGP.

                Esta solução funcionará muito bem enquanto tivermos uma rede não muito complexa e com curtas distâncias geográficas entre os diversos ISP clientes, e deles para a borda BGP. Quando essa rede aumenta em complexidade, começa a prover alta disponibilidade com distribuição geográfica e longas distâncias entre os diversos POPs, o aprovisionamento de novos clientes e a gerência e manutenção dessa rede crescem exponencialmente em gasto de tempo dos operadores. O que faz com que os Provedores de Trânsito comecem a perder em produtividade, qualidade de serviço e vejam seus custos com pessoal decolarem de forma descontrolada.

                Outro problema desta configuração, é que toda a troca de tráfego entre os clientes precisa ser encaminhada para a borda BGP, mesmo que existam rotas mais curtas no backbone MPLS. Quanto maior a rede fica, mais voltas o tráfego entre clientes dá dentro da estrutura e começam a surgir problemas de latência e consumo desnecessário nas conexões de backbone.

                A melhor arquitetura para garantir um crescimento facilitado desse ISP é a adoção de MPLS L3VPN (VRF). Com esta configuração, todos os elementos PE desta rede MPLS trabalham como se fossem um único grande roteador, permitindo que o tráfego escolha sempre o caminho mais curto indicado pelo IGP. Os clientes de trânsito injetam na VRF suas próprias rotas e recebem as rotas de todos os demais clientes.

                Podemos imaginar que isso não faria muita diferença, uma vez que os clientes desses provedores normalmente só atendem residências ou empresas que consomem conteúdos de Internet, normalmente eles não geram conteúdo, o que faria com que o consumo entre clientes seja reduzido. Mas se imaginarmos dessa forma, estaríamos ignorando o fato de que, nos dias atuais vemos um movimento cada vez maior de desenvolvimento de aplicativos de comunicação em tempo real, e que esses aplicativos se utilizam cada vez mais da prerrogativa da comunicação P2P, o que faz com que, adotando uma rede de trânsito convencional, parte do benefício buscado pelo desenvolvedor adotando o P2P seja perdido em voltas desnecessárias na rede.

                Além disso, a VRF possibilita uma simplicidade maior na ativação de redundância geográfica das bordas BGP, pois permite adicionar novas bordas BGP sem a necessidade de criação de novas L2VPN para cada um dos clientes. Para alcançarmos a qualidade exigida pelos clientes, não basta prover velocidade e estabilidade, precisamos prover principalmente disponibilidade. Neste ponto entra a necessidade cada vez maior de minimizar os períodos de interrupção nos serviços, mesmo aqueles programados para manutenções. A maior parte deles podem ser eliminados com um bom planejamento de rede, o que é muito auxiliado pela L3VPN.

                Outra facilidade que esta solução traz, é a possibilidade de implementação de um plano de Community, que fará com que no PE de comunicação com o cliente possam ser marcadas as communities que irão automatizar o anúncio das bordas BGP. Fazendo com que os operadores de ativação de clientes não necessitem realizar configurações nos equipamentos de borda, uma vez que neles já terão configuradas as policies de anúncio baseadas no plano de Community.

                A redução da necessidade de configurações nos equipamentos de borda, além de aumentar a velocidade com que novos clientes podem ser adicionados nesta rede, minimizam o risco de indisponibilidades causadas por erros humanos, onde uma policy mal definida pode impactar o serviço de inúmeros outros clientes que não tem nenhuma relação com o novo que está sendo ativado. Os prejuízos de imagem que um momento de indisponibilidade causa, podem custar mais caro que o efetivo cancelamento de contratos por parte dos atuais clientes.

                Com o aumento do volume de tráfego, aumento dos requisitos de alta disponibilidade e crescente exigência de confiabilidade nos serviços de acesso, precisamos buscar sempre soluções que automatizem ao máximo nossas operações, reduzindo a carga de trabalho de nossos operadores e consequentemente os riscos de indisponibilidade em nossas redes. Entendemos que atualmente, os custos de implementação das L3VPN estão bastante reduzidos e se tornaram uma solução de excelente custo x benefício para provedores de trânsito dos mais diversos tamanhos.

Luiz Puppin – Graduado em Tecnologia da Informação pela Unicarioca, Pós-graduado no MBA em Gestão de Serviços de Telecomunicações da UFF e Especialista em Comunicações Móveis pela UFF.

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