Redes centralizadas x Redes descentralizadas - ISPBLOG
Enviado em 25.05.2016

Redes centralizadas x Redes descentralizadas

Matéria de Rodrigo Fernandes, Publicada na Revista ISPmais – Edição 03.

Muito se discute quando o assunto é manter a rede centralizada ou descentralizada, assim como muitas coisas em nossas vidas, as duas opções possuem suas vantagens e desvantagens. Também é preciso considerar que cada projeto de rede é único, a quantidade de assinantes, tecnologia que será implementada, valor que se pretende investir, todas estas coisas estão entre os pré-requisitos para se decidir se a rede será centralizada ou descentralizada. Mas que outros aspectos estão envolvidos? Este artigo irá apresentar pontos interessantes, que irão ajudar você provedor a tomar a decisão certa para sua rede.


Custo

Um dos fatores que mais pesam na hora de decidir sobre algo é o custo. Analisando rapidamente, é fácil ter uma primeira impressão de que centralizar é mais econômico do que descentralizar, e dependendo da situação, talvez realmente seja, pois quando centralizamos estamos optando por um ponto central e não dois ou mais espalhados e isso resulta em economia com infraestrutura, o que incluí racks, equipamentos, acessórios, enfim.

A economia com a centralização também é refletida na segurança, manutenção e suporte, afinal é muito mais fácil e barato se preocupar apenas com um ponto do que com vários. Além disso, de um modo geral, o local escolhido para concentrar a rede se encontra no mesmo local ou muito próximo de onde o provedor concentra toda a estrutura da empresa. Devido a isso, os custos com segurança diminuem, pois, o local é assistido e conta com toda proteção já incorporada a empresa.

Os custos com a manutenção e suporte também serão menores. Os reparos e melhorias estarão concentrados em um único ponto facilitando sua realização, e o acesso ao local para suporte é rápido, muitas vezes não havendo a necessidade sequer de deslocamentos, economizando tempo e dinheiro.

Porém, uma análise mais aprofundada revela alguns detalhes que indicam que, mesmo com a descentralização tendo um custo inicial mais alto com infraestrutura, segurança, manutenção e suporte, os investimentos futuros que serão necessários para acompanhar o crescimento da operação serão muito menores em comparação a centralização, que exigirá investimentos cada vez maiores para se manter. Veja alguns exemplos:


Nobreaks

Quanto mais equipamentos, maior o transtorno em casos de problemas com o fornecimento de energia elétrica. Por esse motivo, esse está entre os pontos mais críticos a serem considerados, quando a intenção é concentrar equipamentos.

A conta é bem simples, quanto mais equipamentos, mais é preciso investir em nobreaks com potências maiores e mais baterias para manter uma autonomia mínima. Para ficar mais claro, vamos analisar uma situação comum, 512 clientes FTTH, divididos em dois splitters 1/8, um primário para as rotas e um secundário para atender os clientes. Seguindo as boas práticas de 64 clientes por OLT, precisamos de 8 OLTs ou no caso desse exemplo, uma OLT modular que dará suporte de alguma forma a 8 interfaces PON, permitindo atender essa demanda. Vamos incluir no nosso cenário um switch para interligar as OLTs e um servidor concentrador (PPPoE ou DHCP) que será responsável por autenticar e concentrar esses clientes. Um cenário bem simples, mas que já permite visualizar as diferenças.

Os valores aplicados são aproximados, uma vez que esses valores variam muito entre, marca, modelo e fabricante, como também o objetivo principal aqui é analisarmos as vantagens da descentralização nesse aspecto.

Vamos assumir 100W para uma OLT modular com 8 interfaces PON ativas, um servidor mais robusto com 400W de consumo médio e 40W de um switch 24 portas usando somente as portas em questão. Totalizamos 540W de consumo.

Para esse cenário, vamos optar por um nobreak de 1.2KVa de potência com 50% de eficiência, com uma bateria estacionária interna de 45Ah e um módulo externo com mais 1 bateria estacionária também de 45Ah, isso nos daria no máximo 22 minutos de autonomia, mas se tratando do acesso dos seus clientes, isso é muito pouco. Dependendo do plano de contingência da sua empresa, o deslocamento de um gerador portátil, exigirá um tempo de ação maior.

001

Agora, vamos considerar a descentralização. Vamos dividir em apenas dois pontos, armário-1 e armário-2. Serão 256 clientes por armário, nesse caso, vamos utilizar em cada um deles os seguintes equipamentos: 4 OLTs com 1 interface PON por OLT com consumo de 15W cada. Para esse total de clientes podemos substituir o servidor por uma RouterBoard 1100AHx2 com consumo de 25W e devido a quantidade de portas de rede, não precisaremos mais do switch. Esse conjunto totaliza 85W de consumo por armário. Com o mesmo nobreak de 1.2KVa e 2 baterias de 45Ah (interna e externa), aumentamos nossa autonomia para significativos 44 minutos, um tempo muito mais aceitável para que o provedor possa realizar suas rotinas de contingência com mais tranquilidade.

002

Imagine agora que com a descentralização, você poderia optar por economizar e colocar um nobreak de 600Va de potência com 50% de eficiência, onde o nobreak consome sozinho muito menos carga, aumentando a autonomia para 1 hora e 33 minutos.

Notem como o fato de descentralizar, permite ao provedor investir um valor bem inferior em nobreaks e módulos de baterias, e ainda assim, manter um tempo aceitável de autonomia.

É importante considerar também, que além do custo em si, nobreaks maiores e mais baterias, são cada vez mais pesados e de difícil manutenção.


Refrigeração

Mesmo com o avanço da tecnologia, o aumento do consumo elétrico ao passo que se amplia a performance, continua sendo uma dor de cabeça para os engenheiros, não exatamente pelo consumo em si, mas pelo aumento de calor que isso gera.

Em um sentido similar, os provedores se deparam com o mesmo desafio. Ao concentrar mais clientes, será necessário melhorar a performance dos equipamentos e/ou ampliar a quantidade dos mesmos. Isso irá implicar no aumento da temperatura, consequentemente será questão de tempo para que sejam instalados ou ampliados os condicionadores de ar.

O processo inverso é muito mais tranqüilo e favorável. Descentralizando, a demanda por performance é menor, isso significa menor número de equipamentos ou equipamentos que consomem menos, resultando em ambos os casos, em uma menor dissipação de calor, possibilitando a redução de investimentos em condicionadores de ar ou até a ausência do mesmo.

Outra característica que vem de encontro, são as altas temperaturas operacionais que os equipamentos stand-alone tendem a suportar. Então, ao mesmo tempo que esses equipamentos dissipam muito menos calor, eles também suportam temperaturas maiores, favorecendo a descentralização em armários que possuem sistemas de refrigeração simples, muitas vezes, apenas exautores.

003

Armário utilizado na descentralização com refrigeração simples, apenas exaustores.

004

Temperatura do armário

 

Insatisfação e Cancelamentos

Outro ponto importante que muitas vezes não é levado em consideração é a perda de faturamento. Mas o que isso tem haver com a decisão de centralizar ou descentralizar a rede?

Nada é mais impactante para um provedor de acesso do que estar “sem acesso”. Em poucos minutos, a quantidade de reclamações pode ser devastadora. Ainda que o serviço tenha sido prestado com excelência nos últimos meses, poucos minutos são o suficiente para gerar insatisfação aos usuários, comentários desagradáveis nas redes sociais e cancelamentos, gerando estresse em toda equipe de trabalho. Qualquer um, ao se deparar com essa situação, faria tudo ao alcance para minimizar ao máximo as conseqüências desses problemas e as redes descentralizadas são um dos caminhos para minimizar isso.

Evidente que nenhuma solução é 100% a prova de falhas e mesmo a rede sendo descentralizada, também é preciso se preocupar com os pontos suscetíveis a falhas, se preocupando com redundâncias e outras medidas, contudo, quando dividimos a rede, dividimos nossos problemas pela metade e quanto mais dividirmos, tomando as devidas precauções, menor será o impacto das eventuais falhas.

Todos os equipamentos por melhores que sejam estão sujeitos a problemas. Agora imagine o impacto negativo que terá o provedor que centralizou toda sua rede e está com problemas no core. Dependendo do ocorrido o provedor poderá ficar “apagado” sem previsão para restabelecer os serviços.

Mas e se esse mesmo provedor, optou por redes descentralizadas, agrupando os clientes em pontos estratégicos. Ele está dividindo um problema enorme em problemas menores, onde mesmo que ocorra uma falha de força de motivo maior, a quantidade de assinantes afetados será muito menor e tudo mais por consequência também, menos chamados, menos insatisfação, menos cancelamentos.

Vivemos em uma época onde, para muitos, o acesso a internet se tornou tão essencial quanto a própria energia elétrica. Dado essa necessidade, qualquer opção que minimize problemas precisa ser considerada. Redes descentralizadas bem elaboradas podem fazer muita diferença nesse sentido.


Conclusão

Estes não são os únicos fatores envolvidos na decisão, mas sem dúvida estão entre os mais significativos. Centralizar ou descentralizar? Simplesmente optar entre uma ou outra não trará garantia alguma de sucesso. Ambas exigem um projeto bem elaborado, preocupado com redundâncias e acompanhado de boas práticas. De qualquer forma, isso não muda o fato de que será preciso escolher.

Temos o cenário de uma crescente demanda por acesso que requer cada vez mais recursos e uma exigência cada vez maior pela ausência de interrupções. Provedores comprometidos buscam a excelência para atender a essas necessidades. Analisar todos os pontos apresentados contribuirá para que a sua decisão seja a correta, permitindo alcançar esses objetivos.

 

Rodrigo Fernandes
Diretor de Redes
Visãonet

Comentários